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domingo, 7 de março de 2021

Escrito por em 7.3.21 com 0 comentários

Tiro com Arco Montado

Recentemente, eu escrevi aqui dois posts que complementavam um que eu fiz lá em 2016, falando sobre tiro com arco. O tiro com arco é um esporte de variações quase infinitas, e, se eu resolver falar sobre todas, não vou acabar essa série nunca, mas, antes de encerrá-la, eu gostaria de falar sobre uma variação do tiro com arco muito interessante, mas pouco conhecida no Brasil: o tiro com arco montado. "Montado", no caso, significa a cavalo, e não que o arco venha desmontado e tenha de ser montado antes da competição, só para ficar claro.

Diferentemente do que ocorreu com o tiro com arco "a pé", que passou um surto de popularidade na Europa durante o século XVII, que culminou em sua transformação em esporte e a fundação de uma federação internacional, o tiro com arco montado sempre foi mais popular no Oriente, com sua popularidade no ocidente se restringindo a alguns países do Leste Europeu, em especial Hungria, Polônia e Bulgária. Isso fez com que, até recentemente, o tiro com arco montado sequer tivesse uma federação internacional, e com que suas competições esportivas ainda sejam poucas; outra consequência é que a maioria das provas de tiro com arco montado disputadas hoje foi inventada no oriente, sendo as mais populares as de origem coreana.

O primeiro país a transformar o tiro com arco montado em esporte foi o Japão, com a criação do yabusame, lá no século VI, quando o Imperador Kinmei decidiu organizar um festival na cidade de Oita; o yabusame, porém, não fazia parte de um torneio esportivo, e sim de um ritual religioso, no qual os arqueiros homenageavam deuses xintoístas. Esse caráter religioso perdurou durante séculos, com inclusive uma grande demonstração de yabusame sendo organizada em 1187 para comemorar a assinatura de um acordo de paz. Com o início da Era Edo e a Guerra Civil, o yabusame foi abandonado, mas, durante a Era Meiji, voltou a ser praticado, mais uma vez com um fundo religioso; somente no início do século XX, quando estava claro que muitos dos arqueiros do yabusame passavam seu tempo livre competindo entre si para ver quem tinha mais habilidade, alguns professores e treinadores começariam a se organizar para criar um órgão que estabelecesse as regras do yabusame de forma que torneios esportivos pudessem ser disputados, o que levaria à fundação da Associação Japonesa de Arqueria Equestre (ZNKK, da sigla em japonês), em 1939. Além de atuar como uma federação esportiva, estabelecendo as regras e organizando torneios de yabusame, a ZNKK tem a missão de preservar as tradições e o valor histórico do yabusame, inclusive pesquisando e investigando a história do yabusame para que os registros de seus rituais sejam o mais completos possível. Apesar de a ZNKK já ter mais de 80 anos, o yabusame até hoje é praticado apenas no Japão, de forma que não existe uma federação internacional de yabusame - embora a ZNKK atue a nível internacional, principalmente como parceira de outras federações nacionais e internacionais de tiro com arco montado, para a realização de demonstrações de yabusame fora do Japão.

Sendo um esporte tão tradicional e ritualístico, o yabusame é cheio de detalhes - começando pela roupa dos arqueiros (que se chamam ite), que devem usar um chapéu próprio, chamado kimen ayahigasa; um quimono colorido chamado hitarare; uma proteção de couro chamada igote, que cobre o braço, ombro e parte do peito do lado esquerdo do corpo, amarrado com uma tira de couro embaixo do braço direito; uma estola de pele de cervo, chamada mukabaki, sobre as pernas; luvas de couro chamadas tabi; botas de couro chamadas igutsu; e carregar, embainhadas na cintura, uma espada longa chamada tachi e uma espada curta chamada maezashi, que são só decorativas, sem uso durante a prova. O cavalo também possui várias decorações de couro e tecidos coloridos, e a sela, chamada wagura, e os estribos, chamados waabumi, feitos de madeira e ferro, são especiais para o yabusame, não sendo usados em nenhum outro tipo de esporte ou ritual que envolva montar a cavalo.

O arco usado no yabusame se chama shigeto, tem por volta de 2,2 m de comprimento, e é feito de madeira, bambu e couro. As flechas, chamadas jindoya, têm por volta de 1,2 m de comprimento, são feitas de bambu, com rêmiges de penas de aves, e têm uma ponta de metal que lembra um nabo ou rabanete, de diâmetro mais ou menos cinco vezes maior que o do corpo da flecha. A aljava (aquele cilindro que leva as flechas), chamada furue, fica presa ao mesmo cinto que leva as espadas; cada arqueiro tem direito a levar três flecha por prova. A técnica que o arqueiro usa para montar o cavalo, chamada tachisukashi, é própria e exclusiva do yabusame, e considerada dificílima, pois o arqueiro não pode pressionar o corpo do cavalo com seus joelhos, mas também não pode se sentar na sela, devendo permanecer em uma posição na qual seja possível passar uma folha de papel entre suas nádegas e a sela - o ideal é ficar justamente o mais próximo possível sem se sentar, pois, se ele se afastar muito da sela, não terá controle sobre o cavalo. Como as duas mãos do arqueiro estarão no arco - aliás, como no kyudô, é obrigatório o arqueiro segurar o arco com a mão esquerda e a corda com a direita - o controle do cavalo não é feito pelas rédeas, e sim por sinais sutis dos pés do arqueiro nos estribos.

Assim como o sumô, o yabusame conta com um ritual próprio no início e no final de cada prova, que conta com tambores, orações e oferendas. Cada arqueiro também tem direito a uma passagem pela pista, em plena velocidade, mas sem disparar as flechas, para marcar a posição dos alvos; esse "teste" se chama subase. Quando a prova for pra valer, os arqueiros serão divididos em dois grupos, e cada um deles terá direito a passar pela pista duas vezes, somando os resultados de ambas; essa "primeira fase" se chama housha. Os mais bem colocados de cada grupo se classificam para uma segunda fase, chamada kyosha, na qual todos competirão juntos; o vencedor da prova é quem obtiver mais pontos na kyosha, independentemente do resultado da housha.

A pista do yabusame tem 218 m de comprimento por entre 1,5 e 3 m de largura, e é feita de terra batida, com a largura demarcada por cordas. Na housha os alvos são losangos de madeira de 1 m de lado e cor branca, posicionados a 1,8 m do solo e a 9 m de distância da pista. Dentro de cada losango há um alvo redondo, de 80 cm de diâmetro, composto por cinco círculos concêntricos, nas cores, de fora para dentro, verde, amarela, vermelha, branca e preta, mais um "sexto círculo", branco e de 2 cm de diâmetro, no centro do preto, usado só para desempates; acertar o círculo preto vale 5 pontos, e aí um ponto a menos para cada círculo maior, com o verde valendo 1 ponto. Na kyosha, os alvos são feitos de cerâmica, têm 24 cm de diâmetro, são pintados na cor branca com um círculo preto de 12 cm de diâmetro no meio, e são cheios de confete, pequenos pedaços de papel brilhoso que caem quando a flecha atinge o alvo e ele se parte; cada alvo vale 1 ponto, mas apenas se o confete cair. Em ambas as fases, o primeiro alvo fica a 15 m, o segundo a 109 m, e o terceiro a 203 m da linha de partida; o arqueiro deve passar com o cavalo a galope, e disparar uma de suas flechas em cada um dos alvos - em média, um cavalo leva 50 segundos para percorrer toda a pista, mas o tempo não é cronometrado.

Na antiguidade, o Japão tinha um outro tipo de tiro com arco montado, chamado kasagake, no qual os alvos, de madeira e com círculos concêntricos, ficavam não a 1,8 m de altura, mas no chão, em um ângulo de 45 graus com o solo, o que fazia com que os ite tivessem de atirar para baixo; além disso, alguns alvos ficavam posicionados do lado direito, o que forçava o ite a passar o arco por cima do pescoço do cavalo e a atirar meio torto. Hoje, o kasagake não é mais praticado, exceto como demonstração durante torneios de yabusame.

O yabusame seria praticado na Coreia durante a ocupação japonesa, que durou de 1910 a 1945; lá, ele seria adaptado para o uso de arcos coreanos, e daria origem ao chamado estilo coreano, que é hoje o mais popular esporte de tiro com arco montado no mundo inteiro. Parte dessa popularidade viria do fato de que a primeira federação internacional de tiro com arco montado, a Federação Mundial de Arqueria a Cavalo (WHAF) seria fundada na Coreia do Sul, em 2006, após a realização do primeiro campeonato internacional da modalidade, no ano anterior. Mesmo sendo tão recente, a WHAF não é a única federação internacional do tiro com arco montado, com a Aliança Internacional de Arqueria a Cavalo (IHAA) tendo sido fundada na Austrália em 2013. Hoje, tanto WHAF quanto IHAA têm 30 membros cada, a maioria em comum - mas não o Brasil, que só é membro da WHAF.

Todas as provas reguladas pela WHAF e pela IHAA seguem mais ou menos o mesmo estilo do yabusame, mas sem a parte ritualística: o arqueiro deve vir com seu cavalo a galope enquanto dispara contra os alvos - se o cavalo trotar ou andar, é desclassificado. Os arqueiros também não precisam usar toda a vestimenta tradicional, podendo usar roupas esportivas, nem ficar na posição de tachisukashi, podendo ficar sentados na sela, e até se levantar por alguns instantes para disparar, se preferirem. Em relação ao arco e às flechas, a IHAA permite apenas o uso do arco recurvo, o mesmo das competições da World Archery (como as Olimpíadas), bem como das mesmas flechas sancionadas pela WA; a WHAF permite o uso tanto do arco recurvo e suas flechas quanto do arco e flechas coreanos, usados em competições de gungdo, seja os construídos com materiais tradicional ou os feitos de materiais modernos. Também vale citar que, em competições da IHAA e WHAF, a aljava pode ser presa às costas, peito, cintura ou coxa do arqueiro.

Tanto a WHAF quanto a IHAA regulam o estilo coreano, sendo que a IHAA regula mais provas. A WHAF regula duas provas, chamadas Tipo A e Tipo B, sendo que cada uma é composta de seis passagens na pista, com os pontos de cada arqueiro sendo somados em todas as seis passagens para determinar o vencedor. No Tipo A, a pista tem 120 m de comprimento para as quatro primeiras passagens, e 180 m para as duas últimas; nas duas primeiras ela tem apenas um alvo, a 90 m da linha de partida; nas duas seguintes tem dois, a 60 e 90 m; e nas duas últimas tem cinco, a 30, 60, 90, 120 e 150 m. Já no Tipo B a pista tem 100 m de comprimento em todas as seis passagens; nas duas primeiras o alvo fica a 50 m da linha de partida; nas duas seguintes a 40 e 60 m; e nas duas últimas são só três alvos, a 30, 60 e 90 m da linha de partida; em ambas as provas, a pista deve ter 4 m de largura. Os alvos, que ficam a 6 m de distância da pista, têm 80 cm de lado e cinco quadrados concêntricos, de fora para dentro vermelho, verde, preto, amarelo e branco, com a figura de uma cara de um tigre no quadrado branco (apenas para decoração); o quadrado branco vale 5 pontos; os demais, de dentro para fora, valem um ponto a menos, com o vermelho valendo 1.

Já a IHAA regula sete provas do estilo coreano. Cinco delas são agrupadas sob o nome de standard korean, e identificadas pelos códigos K12 (três passagens de tiro simples e três de tiro duplo), K13 (três de tiro simples e três de tiro serial três alvos), K23 (três de tiro duplo e três de tiro serial três alvos), K123 (duas passagens de tiro simples, duas de tiro duplo e duas de tiro serial três alvos) e K125 (duas passagens de tiro simples, duas de tiro duplo e duas de tiro serial cinco alvos). Pelas regras da IHAA, a pista para o tiro simples, para o tiro duplo e para o tiro serial com três alvos tem 90 m de comprimento, enquanto a do tiro serial com cinco alvos tem 150 m de comprimento, sendo que, em ambos os casos, deve haver pelo menos 25 m antes da linha de partida, para o cavalo ganhar velocidade, e 25 m depois da linha de chegada, para reduzi-la, e a largura pode ser entre 2 e 4 m. No tiro simples o alvo é posicionado a 45 m da linha de partida; no tiro serial três alvos eles estão a 15, 45 e 75 m; e no tiro serial cinco alvos, a 15, 45, 75, 105 e 135 m. Eu deixei o tiro duplo por último porque seus alvos estão a 40 e 50 m da linha de partida, mas posicionados de forma semelhante a uma letra V, o que faz com que o arqueiro tenha de disparar a flecha para acertar o primeiro alvo para a frente, e não para o lado, a 30 m da linha de partida, e a do segundo virando seu tronco até quase ficar de costas, a 60 m da linha de partida. Em todas as passagens, os alvos, que ficam a 7 m de distância da pista, são redondos, de madeira, com 80 cm de diâmetro e cinco círculos concêntricos, de fora para dentro branco, preto, azul, vermelho e amarelo - mais uma vez, o amarelo vale 5 pontos, e daí um ponto a menos até o branco, que vale 1. Na disciplina do tiro serial três alvos, os arqueiros ganham três pontos de bônus se acertarem os três alvos; na tiro serial cinco alvos, ganham três pontos de bônus se acertarem três alvos consecutivos, ou cinco pontos de bônus caso acertem os cinco alvos (mas nunca ambos). Além dos pontos por acertar os alvos, os arqueiros ganham ou perdem pontos por tempo (mas apenas se tiverem acertado pelo menos um alvo): na pista de 90 m, o tempo-limite é 14 segundos, com um ponto sendo somado, até um máximo de 5, por cada segundo a menos, e um ponto sendo subtraído por cada segundo a mais; na pista de 150 m é de 23 segundos, e o máximo de pontos de bônus é 8. Não é possível ficar com pontuação negativa: mesmo que as penalidades por tempo sejam maiores que a pontuação dos alvos, a pontuação final do arqueiro naquela passagem será zero.

As outras duas provas do estilo coreano da IHAA são agrupadas sob o nome grand prix, e possuem os códigos K235 e K233. A K235 consiste em duas passagens de tiro duplo, duas de tiro triplo e duas de tiro serial cinco alvos, enquanto na K233 são disputadas duas passagens de tiro duplo, duas de tiro triplo e duas de tiro serial três alvos. A prova do tiro triplo não é igual à do tiro serial três alvos, sendo mais parecida com a do tiro duplo, já que o primeiro e o terceiro alvos estão "inclinados", com o primeiro tendo de ser acertado de frente e o terceiro de costas (somente o segundo está na posição habitual, de lado). Na K235, a pista do tiro triplo tem 120 m, com os alvos posicionados a 40, 60 e 80 m da linha de partida, o primeiro tendo de ser acertado da linha de 30 m e o terceiro da de 90 m; o tempo-limite é de 18 segundos, com um máximo de 6 pontos de bônus por tempo. Já na K233 todas as pistas têm 90 m de comprimento e 14 segundos de tempo-limite, com máximo de 5 de bônus; os alvos no tiro triplo estão a 25, 45 e 65 m da linha de partida, com o primeiro tiro sendo feito a 15 m e o terceiro a 75 m. Em ambas as provas do grand prix os alvos estão a 8 m da pista, e há um bônus de dois pontos para um arqueiro que acerte ambos os alvos no tiro duplo e um de três pontos para o que acerte os três no tiro triplo - além dos mesmos bônus do tiro serial do standard korean.

Outra prova que é regulada tanto pela WHAF quanto pela IHAA se chama masahee, e é a adaptação para as regras do estilo coreano de um esporte que, segundo registros de pinturas, era praticado em Goguryeo, um antigo reino que hoje ocuparia partes da Rússia, China, Coreia do Norte e Coreia do Sul. Nessa prova, os alvos são cubos de madeira decorados, que ficam sobre plataformas de 1,4 m de altura, a 7 m da lateral da pista; usando flechas cegas (sem ponta), o arqueiro deve derrubar esses cubos de suas plataformas, com cada alvo valendo 1 ponto, mas só se o cubo cair no chão em decorrência de ter sido atingido pela flecha (se a flecha acertar o plataforma e ele cair, por exemplo, não vale). Ao todo, cada arqueiro faz três passagens pela pista, com o tamanho dos alvos sendo menor a cada passagem: na primeira, os cubos têm 60 cm de lado, na segunda, 40 cm, e, na terceira, 20 cm - se for necessário um desempate, podem ser usados cubos de 10 cm. Na prova regulada pela WHAF, a pista sempre tem 180 m de comprimento por 4 m de largura e cinco alvos, a 30, 60, 90, 120 e 150 m da linha de partida, e cada arqueiro tem 20 segundos para fazer cada passagem, não ganhando pontos de bônus, mas perdendo um ponto para cada segundo a mais. Já na prova regulada pela IHAA, a pista sempre tem entre 2 e 4 m de largura, mas, na primeira passagem, tem 90 m de comprimento, na segunda tem 120 m, e na terceira tem 150 m. Na primeira passagem o tempo-limite é de 14 segundos, na segunda é de 23 segundos, e na terceira é de 28 segundos. Na primeira passagem há apenas três alvos, posicionados a 15, 45 e 75 m da linha de partida; na segunda e na terceira são cinco, sendo que na segunda eles estão a 15, 45, 75, 105 e 135 m, enquanto na terceira estão a 15, 45, 75, 120 e 150 m.

A terceira e última prova regulada tanto pela WHAF quanto pela IHAA é a do qabaq, que foi criada no Império Otomano. Nela, é usada uma flecha chamada flu-flu, que tem uma bolota de borracha na ponta, e o alvo é um disco cônico de latão, parecido com aquele chapéu que os chineses usam em desenhos animados, de 60 cm de diâmetro, que fica no alto de um poste de 8 m de altura - qabaq significa "abóbora", e a prova tem esse nome porque, originalmente, o alvo não era esse disco, e sim uma abóbora. A prova do qabaq regulada pela WHAF e a regulada pela IHAA são diferentes, mas, em ambas, a pista tem 90 m de comprimento, entre 2 e 4 m de largura, o poste fica a 1 m da lateral da pista, e cada arqueiro faz duas passagens, somando os resultados de ambas para obter seu resultado final. Na versão da WHAF, o poste fica a 60 m da linha de partida; acertar o alvo atirando de frente (ou seja, antes de passar o poste) vale 1 ponto, acertá-lo de costas, depois de ter passado pelo poste, vale 3 pontos, e acertá-lo exatamente de baixo, quando o cavalo está em frente ao poste, vale 5 pontos.

Já na versão regulada pela IHAA, o arqueiro deve levar três flechas, pois, além do disco no alto do poste, há dois gongos de latão que também devem ser acertados. O primeiro é redondo, tem 80 cm de diâmetro e imita um alvo, com três círculos concêntricos, dois pretos e um sem cor; esse gongo fica posicionado a 5 m da linha de partida, e a 5 m de sua lateral. O segundo gongo lembra aquelas plaquetas de identificação que os soldados levam no pescoço quando vão pra guerra, sendo formado por dois semicírculos de 50 cm de diâmetro ligados por duas retas de 1 m de comprimento; ele fica posicionado a 85 m da linha de partida, e a 7 m da lateral da pista. Acertar cada gongo vale 3 pontos, e acertar o disco no alto do poste, que fica a 45 m da linha de partida, vale 5 pontos se o arqueiro ainda não tiver passado pelo poste (atirando de frente) ou 7 pontos se ele já tiver passado (atirando de costas). Tanto no caso dos gongos quanto do disco, a pontuação só é válida se produzir som audível. Há um tempo-limite de 14 segundos, com um ponto sendo somado, até um máximo de 5, por cada segundo a menos, e um ponto sendo subtraído por cada segundo a mais.

Existe uma prova que é regulada somente pela WHAF, chamada mogu, também de origem coreana. Nessa curiosa prova, um dos membros da organização do torneio galopa por uma pista que pode ter 150 ou 200 m de comprimento, mas sempre 4 m de largura, arrastando, através de cordas amarradas em sua sela, a "bola de mogu", uma esfera de 60 cm de diâmetro feita de madeira de uma árvore nativa da Coreia chamada lespedeza e coberta por um tecido branco de algodão, enquanto o arqueiro o persegue disparando flechas contra a bola. As flechas têm uma ponta de madeira que se parece com uma rolha, envolvida em um tecido banhado em tinta, de forma que, quando atinge a bola, faz nela uma marca, como se fosse um carimbo; uma marca perfeitamente redonda vale 5 pontos, uma marca parecida com uma lua crescente vale 3 pontos, e um risco vale 1 ponto. Na pista de 150 m cada arqueiro tem direito a disparar duas flechas, enquanto na de 200 m tem direito a três; o ideal é que cada competidor use tinta de uma cor, para que a mesma bola possa ser usada para todos.

Por outro lado, existem quatro provas que são reguladas somente pela IHAA. Três delas pertencem ao chamado estilo húngaro, pois são a adaptação para as regras do estilo coreano de provas disputadas originalmente na Hungria, no século XVII. A IHAA identifica essas provas pelos códigos H110, H90 e H60, sendo que o número depois do H é o comprimento da pista, em metros; na largura, a pista tem sempre entre 1,5 e 3 m. A principal característica do estilo húngaro é que suas provas usam uma torre com três alvos, um virado de forma que o arqueiro consiga acertá-lo de frente, um para que o arqueiro o acerte de lado, e um posicionado de forma que o arqueiro tenha de se virar para trás, após passar pela torre, para acertá-lo; a torre fica a 9 m da lateral da pista, bem no meio do caminho (a 55 m da linha de partida na H110, a 45 m na H90, e a 30 m na H60), tem 2 m de altura, e os alvos ficam posicionados de forma que seus centros estejam a 1,8 m de altura. Cada alvo tem 90 cm de diâmetro e cinco círculos concêntricos, de fora pra dentro vermelho, branco, verde, preto e amarelo; o amarelo vale 5 pontos, e daí um ponto a menos até o vermelho, que vale 1. Outra característica do estilo húngaro é que cada arqueiro pode disparar quantas flechas conseguir, e não apenas uma por alvo, e não precisa levar as flechas extras em uma aljava, podendo levá-las em suas mãos. Cada pista tem um tempo-limite (22 segundos na H110, 18 segundos na H90, 12 segundos na H60), com os pontos de bônus só sendo aplicados caso o arqueiro acerte pelo menos uma flecha em um dos alvos, mas sendo ilimitados e recebendo um multiplicador de 0,5x caso ele só tenha acertado uma flecha, e de 2x caso tenha acertado três ou mais; em caso de estouro do tempo, 5 pontos são perdidos caso o tempo final tenha sido até dois segundos maior que o limite (lembrando que é impossível ficar com pontuação negativa), mas o arqueiro perde todos os seus pontos caso ultrapasse essa tolerância, marcando zero naquela passagem. As provas do H60 e do H90 consistem de seis passagens cada, enquanto uma prova de H110 tem oito passagens.

A quarta prova é a chamada pista polonesa, que, como vocês devem imaginar, foi inventada na Polônia. Essa prova é disputada em um circuito, como os do automobilismo, com no mínimo 3,5 m de largura, mas sem comprimento mínimo ou máximo; a pista deve ter, porém, pelo menos duas curvas, e pelo menos seis alvos do estilo tradicional, ou seja, formados por círculos ou quadrados concêntricos. Pelo menos três dos alvos devem estar dispostos de forma que o arqueiro consiga atingi-los de lado, enquanto está passando por eles; pelo menos um deve estar no chão, como no kasagake; e pelo menos um deve estar do lado direito da pista, para que o arqueiro tenha de se virar para atingi-lo; os demais podem ser também desses três tipos ou estarem posicionados para serem atingidos de frente ou de costas, ou até ter formatos diferentes - imitando animais, por exemplo - desde que tenham de ser perfurados pelas flechas, e não derrubados, destruídos ou soados (como gongos). A altura de cada alvo e sua distância para a lateral da pista também é variada, sendo que a distância para a lateral deve ser de no mínimo 6 m, exceto para alvos no chão, que devem estar a 1 m da lateral da pista; o primeiro alvo deve estar no mínimo a 15 m da linha de partida, e o último deve estar no máximo a 15 m da linha de chegada; e a distância mínima entre um disparo e outro deve ser de 30 m. A pista preferencialmente deve ter variações de terreno (subidas e descidas) e opcionalmente pode ter obstáculos que o cavalo deve saltar, de no máximo 50 cm de altura, e que possam ser facilmente contornados caso o arqueiro decida não tentar o salto. O número de disparos por arqueiro é ilimitado, e as flechas podem ser levadas numa aljava, em um cinto especial para esse tipo de competição, ou nas mãos. Dependendo do comprimento da pista, uma prova pode consistir de duas ou de três passagens, sempre a galope. Cada tipo de alvo tem suas próprias regras para pontuação, e os pontos de todos os alvos são somados em todas as passagens para determinar a pontuação final de cada arqueiro; em alvos que estejam a menos de 10 m da lateral da pista, caso o arqueiro dispare mais de uma flecha contra o mesmo alvo, somente a flecha de maior pontuação valerá para aquele alvo. Cada pista tem também um tempo-limite, determinado pela organização; terminar abaixo do tempo limite rende 0,5 ponto para cada segundo a menos, e estourá-lo faz com que o arqueiro perca 0,5 ponto para cada segundo a mais. Também são conferidos pontos de bônus por saltar os obstáculos ao invés de contorná-los.

A IHAA também reconhece dez provas para as quais não organiza competições, sete delas no estilo coreano. O Aussie Course conta com três passagens de tiro duplo e três de tiro triplo, sendo que no tiro triplo os alvos estão a 20, 45 e 70 m da linha de partida. Já o Texas Triple tem três passagens de tiro serial três alvos, mas com os alvos a 9, 7 e 15 m da lateral da pista, respectivamente. A Texas Five tem três passagens e cinco alvos, sendo que o primeiro e o segundo devem ser atingidos de frente, e o quarto e o quinto de costas; o segundo e o quarto alvos estão a 9 m da lateral da pista, enquanto os outros estão a 7 m, e as distâncias dos alvos para a linha de partida são 15, 40, 45, 50 e 75 m. A Sling Shot tem três passagens em uma pista de tiro serial três alvos e três em uma de "tiro quíntuplo", na qual o segundo alvo deve ser atingido de frente e o quarto de costas, e os alvos estão a 15, 40, 45, 50 e 75 m da linha de partida. A Utah Quad tem três passagens e quatro alvos, a 15, 35, 55 e 75 m da linha de partida, sendo que o primeiro deve ser atingido de frente e está a 7 m da lateral da pista, o segundo de lado a 11 m, o terceiro de lado a 9 m e o quarto de costas a 9 m. A Eocha Triple tem três passagens e três alvos, a 50, 60 e 75 m da linha de partida, sendo que o primeiro deve ser acertado de lado e está a 7 m da lateral, o segundo (que deve ser acertado primeiro) de frente a 5 m, e o terceiro está no chão e do lado direito. E a Mamluk 90 tem três passagens e quatro alvos, a 25, 30, 55 e 60 m da linha de partida, sendo que o primeiro deve ser atingido de frente, o último de costas, e os outros dois estão no chão, o terceiro do lado direito. Todas essas provas usam a pista de 90 m.

A prova do estilo húngaro clássico, histórico ou tradicional usa uma pista de 90 m e uma torre com três alvos idêntica à do estilo húngaro. Os alvos dessa torre, porém, possuem apenas três círculos concêntricos cada, que podem ser todos os três em preto e branco (o maior e o menor pretos, o do meio branco) ou cada um de uma cor (o primeiro em azul e branco, o segundo em vermelho e branco, o terceiro em verde e branco). No primeiro alvo, o que deve ser atingido de frente, a pontuação, do círculo menor para o maior, é 4, 3, 2; no segundo, que deve ser atingido de lado, é 3, 2, 1; e no terceiro, que deve ser atingido de costas, é 5, 4, 3. Mas a principal característica dessa prova é que a pista é dividida em três zonas de 30 m de comprimento cada, demarcadas por quatro postes de no mínimo 2,5 m de altura, um na linha de partida, um a 30 m, um a 60 m e um na linha de chegada, a 20 cm da lateral da pista cada; flechas que atinjam o primeiro alvo só pontuam se foram disparadas enquanto o arqueiro estava dentro da primeira zona, as do segundo alvo enquanto ele estava na segunda zona, e os do terceiro alvo da terceira zona. Cada arqueiro faz seis passagens, e pode disparar quantas flechas quiser em cada uma delas. O tempo-limite para cada passagem é de 18 segundos; completar a pista em menos tempo rende 1 ponto para cada segundo a menos, mas somente se o arqueiro disparou pelo menos duas flechas entre a linha de partida e a de chegada (mesmo que não tenha atingido os alvos); estourar o tempo-limite faz com que a pontuação do arqueiro naquela passagem seja zero.

Já a prova do chamado estilo romeno usa uma pista de 120 m e dois alvos de 1,5 m de altura, a 9 m da lateral da pista, posicionados a 30 e a 90 m da linha de partida. Esses alvos são quadrados de 1,2 m de lado, com três quadrados concêntricos cada, sendo que o dos 30 m é verde e branco, e o dos 90 m é azul e branco. Diferentemente do que ocorre nas outras pistas, o alvo que fica a 90 m deve ser acertado primeiro (e, por isso, é o alvo número 1), pois está posicionado de forma que o arqueiro consiga acertá-lo de frente, enquanto o alvo que está a 30 m (que é o alvo número 2) está posicionado de forma que o arqueiro precise virar de costas para atingi-lo. No meio exato da pista, a 60 m, há um poste de 1,5 m de altura; flechas disparadas contra o alvo número 1 só pontuam se o arqueiro as disparou antes de cruzar o poste, e as disparadas contra o alvo número 2 só pontuam se ele disparou após tê-lo cruzado. O alvo número 1, do quadrado menor para o maior, vale 5, 4 e 3 pontos; o número 2 vale 6, 5 e 4. Cada arqueiro faz seis passagens, pode disparar quantas flechas quiser, e o tempo-limite é de 20 segundos, com um ponto a mais para cada segundo a menos (mas somente se pelo menos uma flecha atingiu um alvo), e um ponto a menos para cada segundo a mais, até um mínimo de zero.

A décima prova é a chamada pista finlandesa, disputada em uma pista de hipódromo, de 1.000 m de extensão e 13 m de largura, que, assim como uma pista de atletismo, é composta por dois semicírculos ligados por duas retas. O trecho cronometrado tem 400 m de comprimento, e começa e termina nas curvas, pegando cerca de um quarto de cada curva. Na reta que pertence ao trecho cronometrado, é demarcado, com cones ou cordas, um "corredor", de 200 m de comprimento e entre 3 e 5 m de largura, que compreende o trecho entre 100 e 300 m da linha de partida, do qual uma das laterais deve ficar 8 m do interior da pista. A prova é composta de duas voltas na pista (ou seja, duas passagens pelo trecho cronometrado), sendo que no trecho que não é cronometrado o cavalo pode trotar. O tempo-limite é de 69 segundos para cada passagem, sendo somado 0,5 ponto para cada segundo a menos, mas somente se o arqueiro tiver acertado pelo menos três flechas nos alvos, e subtraído 0,5 ponto para cada segundo a mais. Arqueiros que não passem pelo corredor marcam zero naquela passagem, desconsiderando todos os seus acertos, mas um arqueiro que passe pela entrada do corredor "sem querer" pode dar meia-volta e passar por dentro (perdendo tempo no processo).

A pista finlandesa possui oito alvos. Cada arqueiro pode disparar quantas flechas quiser contra cada um deles, e pode levar suas flechas na aljava ou nas mãos. Quatro dos alvos são quadrados de 71 cm de lado, com cinco quadrados concêntricos cada; o primeiro e o último desses alvos estão posicionados no chão, a 30 e a 370 m da linha de partida e a 6 m da linha interna da pista, enquanto os outros quatro estão sobre a linha interna da pista, a 60, 90, 310 e 340 m da linha de partida, posicionados para serem atingidos de lado. Os outros dois alvos são redondos, com 90 cm de diâmetro e três círculos concêntricos cada, posicionados formando um V cujo vórtice está no meio exato da pista, a 200 m da linha de partida; essa posição faz com que o primeiro tenha de ser atingido de frente, e o segundo, de costas. Todos os alvos têm 1,5 m de altura (exceto os do chão) e alternam as cores azul e branca (com o quadrado/círculo mais de fora e o mais de dentro sendo azuis) tendo, como decoração, o leão do brasão da Finlândia em seu centro. A pontuação para os alvos redondos, do círculo menor para o maior, é de 5, 4 e 3 pontos, e para os quadrados é de 5, 4, 3, 2 e 1 ponto. A 20 m do final do corredor (ou seja, a 280 m da linha de partida), há um suporte de 1,5 m de altura, com uma flecha; se o arqueiro pegar essa flecha e dispará-la contra o alvo de costas, ele ganha 4 pontos de bônus, mesmo que a flecha não acerte o alvo.

WHAF e IHAA organizam cada uma um Campeonato Mundial de Tiro com Arco Montado. O da WHAF é disputado anualmente desde 2005, e conta com provas masculinas e femininas, individuais e por equipes, de estilo coreano Tipo A, estilo coreano Tipo B e qabaq, masculina individual de mogu, e mista por equipes de masahee. Já o Mundial da IHAA foi disputado pela única vez em 2018, e estava previsto para ser realizado a cada dois anos, mas a edição de 2020 foi adiada devido à pandemia global; a edição de 2018 contou com provas masculinas e femininas individuais de K235, K233, H110, H90 e pista polonesa.

Antes de terminar, eu gostaria de mencionar as versões montadas de dois esportes de tiro com arco sobre os quais eu falei no post imediatamente anterior a esse, começando pela do okçuluk, que se chama atli okçuluk (at significa "cavalo", então atli é algo como "equestre"). O atli okçuluk não é regulado pela Federação Turca de Tiro com Arco Tradicional (que regula o okçuluk), e sim pela Federação Turca de Esportes Tradicionais (GSDF, da sigla em turco), que regula nove esportes, dentre eles um que já vimos, o jereed. No atli okçuluk são usados o mesmo arco e as mesmas flechas do okçuluk, e os arqueiros usam roupas tradicionais turcas; a pista tem 100 m de comprimento e entre 2 e 4 m de largura.

A GSDF reconhece duas provas do atli okçuluk; a primeira é o kabak, que segue as mesmas regras do qabaq da WHAF e da IHAA, mas com algumas diferenças. Assim como na WHAF, o poste fica a 60 m de distância da linha de partida, mas a 15 m da linha de partida há uma bancada de 30 cm de altura a 50 cm da lateral da pista, com uma flecha; se o arqueiro conseguir pegar essa flecha e usá-la para tentar acertar o disco, ele ganha 5 pontos, mesmo que o disco não seja atingido. Há uma "área de bônus" que começa 2 m antes do poste e termina 2 m depois (ou seja, vai de 63 a 67 m da linha de partida); acertar o disco com uma flecha disparada antes de entrar nessa área vale 1 ponto, com uma flecha disparada depois de sair dessa área vale 3 pontos, e com uma flecha disparada de dentro dessa área vale 5 pontos, com 4 pontos de bônus sendo conferidos se o arqueiro estava exatamente em frente ao poste, atirando diretamente para cima. A 85 m da linha de partida há um segundo alvo, de 1,5 m de altura, que pode ser quadrado, com 40 cm de lado, ou redondo, com 45 cm de diâmetro, que fica a 5 m da lateral da pista; esse alvo é feito para ser derrubado, não perfurado, e o arqueiro ganha 4 pontos se conseguir fazer com que ele caia no chão com um disparo. Há um tempo-limite de 18 segundos, com um ponto sendo somado para cada segundo a menos, até um máximo de 6 pontos de bônus, e um ponto sendo deduzido para cada segundo a mais, sem pontuação negativa, com o arqueiro pontuando zero se as penalidades forem iguais ou maiores que os pontos. Cada arqueiro faz quatro passagens, usando flechas flu-flu.

A segunda prova se chama tabla, e usa três alvos redondos de 1,5 m de altura e 60 cm de diâmetro cada. Esses alvos possuem três círculos concêntricos, sendo o menorzinho de 15 cm, na cor azul e valor 6 pontos, e o intermediário de 30 cm, na cor branca e valor 4 pontos; o maior tem valor 2 pontos, é azul, e tem 8 linhas cheias e 8 tracejadas na cor amarela marcando os pontos cardeais. O primeiro e o segundo alvos ficam a 3 m de distância da pista, sendo que o primeiro fica a 25 m da linha de partida e está virado de forma que o arqueiro consiga acertá-lo de frente, enquanto o segundo está a 40 m da linha de partida, e, para acertá-lo, o arqueiro tem de virar de costas. Já o terceiro está a 85 m da linha de partida e deve ser acertado de lado, mas está a 10 m da lateral da pista. O tempo-limite é de 11 segundos, com o arqueiro ganhando 1 ponto de bônus para cada segundo a menos, mas somente se acertou pelo menos dois alvos, e perdendo 1 ponto para cada segundo a mais (sem poder ficar com pontuação negativa), mas tendo sua pontuação reduzida a zero caso ultrapasse 15 segundos.

Finalmente, temos o tiro com arco montado nômade, que usa o mesmo arco e flechas do tiro com arco tradicional nômade. A pista tem 120 m de comprimento por 10 m de largura, e três alvos a 7 m de distância da lateral cada, sendo que o primeiro deve ser atingido de frente, o segundo de lado e o terceiro de costas. A distância entre os alvos deve ser de no mínimo 30 m, sendo que o primeiro deve estar a no mínimo 20 m da linha de partida, e o último a no máximo 20 m da linha de chegada. As flechas devem ser levadas obrigatoriamente na aljava, e a primeira só pode ser retirada de lá após o cavalo passar completamente pela linha de partida. O tempo de cada passagem é registrado, mas apenas para desempate, sem bônus ou penalidades por tempo. Cada arqueiro faz quatro passagens, e só pode disparar uma flecha contra cada alvo por passagem, sendo que, para cada flecha que não acertar, ele perde 1 ponto (até um mínimo de zero). Em relação aos alvos, existem dois tipos de prova: o chamado estilo nômade usa alvos parecidos com os do tiro com arco tradicional nômade, cavaletes de 45 cm de largura por 1 m de altura com um papel com a figura de um animal, normalmente um íbex (espécie de cabra nativa da Ásia Central), sobre a qual são pintados dois círculos concêntricos, o maior, vermelho, de 20 cm, o menor, amarelo, de 10 cm de diâmetro; acertar o círculo menor vale 7 pontos, o círculo maior vale 5 pontos, o corpo do animal vale 3 pontos, e acertar o papel fora do animal vale 1 ponto. Já no estilo turco, os alvos são losangos de 60 cm de lado, posicionados a 2 m de altura, de cor branca com a silhueta do animal em preto; acertar o animal vale 1 ponto, e acertar a parte branca vale zero. Além das provas masculinas e femininas, individuais e por equipes, o tiro com arco montado nômade tem uma prova por equipes mista, na qual cada equipe é formada por quatro homens e duas mulheres, e cada membro da equipe faz uma passagem. Assim como o tiro com arco tradicional nômade, o tiro com arco montado nômade é regulado pela KRSF, a Federação Quirguiz de Salbuurun - para quem não viu o post anterior o salbuurun é um esporte que simula uma caçada, contando com provas de falcoaria, montaria, corrida de cachorros e tiro com arco, muito popular no Quirguistão.
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domingo, 24 de janeiro de 2021

Escrito por em 24.1.21 com 1 comentário

Tiro com Arco (III)

Mês passado, eu fiz aqui um post sobre tiro com arco, falando sobre várias provas que não são sancionadas pela World Archery, a federação internacional que regula o tiro com arco, mas que ainda são muito praticadas em todo o planeta. Acontece que o tiro com arco é um esporte muito vasto, com centenas de provas e estilos diferentes, e todas as provas que eu abordei mês passado foram criadas na Europa ou nos Estados Unidos, e, portanto, seguem todas o mesmo estilo, somente mudando detalhes como a pontuação, a distância para o alvo e o número de flechas disparadas. Foi um post muito interessante de se fazer, e um ótimo complemento para o meu post original sobre tiro com arco, mas eu senti que ficou faltando algo sobre os outros estilos de tiro com arco praticados no planeta; assim, hoje eu resolvi voltar ao assunto para falar de alguns esportes de tiro com arco que surgiram na Ásia. Vale dizer que esses não são todos os esportes de tiro com arco asiáticos que existem, porque existem dezenas, mas apenas os cinco que eu achei mais interessantes, principalmente por suas provas terem detalhes diferentes das provas de tiro com arco com as quais estamos acostumados. Sem mais delongas, hoje, mais uma vez, é dia de tiro com arco no átomo!

Vamos começar pelo esporte de tiro com arco asiático mais praticado no mundo, o kyudô, criado no Japão, onde as primeiras gravuras representando um arqueiro e um alvo datam do ano 500 a.C. Até o final do século XV, porém, era mais valorizado no Japão o tiro com arco montado a cavalo, parte importante da estratégia de guerra dos exércitos samurai; no final do século XV, Heki Masatsugu criaria uma técnica conhecida como "voar para perfurar o centro", que aumentaria imensamente o número de acertos dos arqueiros a pé, e levaria à criação de centenas de escolas de kyujutsu, a arte de atirar com o arco, não somente para soldados, mas também para nobres que queriam praticar a atividade como passatempo. Essas escolas durariam pouco, entretanto, praticamente desaparecendo no século seguinte, quando os portugueses introduziriam as armas de fogo no Japão. No século XVII, graças ao período de paz prolongada conhecido como Era Edo, as escolas de arquearia começariam a reabrir, mas com o tiro com arco se tornando algo ritualístico, praticado pelos nobres como uma espécie de cerimônia, e não como uma competição esportiva. A maioria dos professores de arquearia dessa época eram monges zen-budistas, que acreditavam que o tiro com arco, propriamente executado, poderia contribuir para a meditação, a contemplação e a iluminação; assim, eles trariam para o tiro com arco conceitos de outras artes marciais, e chamariam sua prática de kyudô, o "caminho do arco". Originalmente, portanto, o kyudô nem era um esporte, e sim uma filosofia e um estilo de vida. 

Durante a Era Meiji, no século XIX, o Japão começou a se abrir ao ocidente, e vários elementos tradicionais da cultura japonesa, principalmente as artes marciais, seriam abandonados pela população, por serem considerados antiquados e ultrapassados. Muitos dos antigos professores, porém, continuariam a praticar o kyudô, e, em 1896, decidiriam se reunir para tentar transformar o kyudô em um esporte competitivo e salvá-lo da extinção. Toshizane Honda, professor da Universidade Imperial de Tóquio, decidiria unir os aspectos ritualísticos do kyudô com as habilidades de guerra do kyujutsu, criando um estilo que chamaria de Honda-ryu ("escola Honda"), o que fez com que ele hoje seja considerado o pai do kyudô moderno. A verdadeira codificação e regulação do kyudô como esporte, entretanto, só teria início em 1949, quando seria fundada a Federação Japonesa de Kyudô (ZNKR, da sigla em japonês), que, em 1953, publicaria o primeiro conjunto de regras oficial do kyudô, definindo não somente as regras de competição, mas também, como ocorre com outras artes marciais, o ranqueamento dos praticantes conforme sua habilidade.

O kyudô começaria a se espalhar fora do Japão bem antes da da formação da ZNKR, com a criação da primeira escola na Itália datando de 1898, e o autor Eugen Herrigel publicando seu livro Zen e a Arte do Tiro com Arco, que criaria um certo interesse pelo kyudô em sua Alemanha natal, em 1948; durante muitos anos, porém, o kyudô foi visto no ocidente como uma curiosidade, sendo praticado apenas por quem já havia visitado o Japão ou por descendentes de japoneses, sem conseguir despertar o mesmo interesse que lutas como o judô ou caratê. Esse cenário só começaria a mudar na década de 1980, quando o monge Shibata Sensei viajaria o mundo fazendo apresentações de kyudô em templos e mosteiros budistas e estimulando a criação de escolas de kyudô nas cidades que visitava. A partir de então, vários países começariam a fundar federações nacionais de kyudô, que organizavam torneios segundo as regras da ZNKR. Em 2006, a própria ZNKR (que ainda existe) decidiria agrupar essas federações sob o nome de Federação Internacional de Kyudô (IKYF), que hoje conta com 28 membros plenos (países que participam de torneios internacionais de kyudô) e 19 membros associados (países onde o kyudô é praticado, mas sem participação em torneios); o Brasil é membro associado desde 2008, representado pela Brasil Kyudo Kai.

O arco do kyudô, chamado yumi, é gigantesco se comparado com os que estamos acostumados, tendo por volta de 2,21 m de comprimento. Tradicionalmente, ele é feito de bambu, madeira e couro, mas a IKYF permite que arcos de competição sejam feitos de materiais como fibra de carbono e alumínio, mais resistentes. Em contrapartida, as flechas, chamadas ya, mesmo para competição, são feitas de bambu, com rêmiges feitas de penas de aves, principalmente peru ou cisne, e ponta esculpida na própria flecha, sem seta; o tamanho da flecha depende da distância entre as mãos do arqueiro com a corda totalmente esticada, devendo ser no mínimo 6 e no máximo 10 cm maior do que essa distância. Outro equipamento usado por todos os arqueiros é a yugake, uma luva de couro que pode cobrir três ou quatro dedos (de qualquer forma sempre cobrindo o polegar, indicador e médio) e pode ter polegar rígido ou flexível; a principal função da luva é ajudar a fazer força ao puxar a corda, mas ela também ajuda os arqueiros a segurar uma flecha extra enquanto disparam - o que faz parte das regras, como veremos em breve.

O uniforme do kyudô é extremamente tradicional, e conta, além de uma camisa branca de algodão, de mangas até os cotovelos e aberta na frente, com uma calça preta bastante larga para os homens, ou uma saia plissada preta longa para as mulheres; a camisa não possui botões ou fechos, e fica fechada graças à cintura da calça ou saia, que conta com botões que a deixam bastante justa. Opcionalmente, os arqueiros podem usar meias, brancas ou pretas, e uma camisa justa preta de mangas compridas por baixo da camisa branca; para as mulheres é obrigatório o muneate, uma peça de couro branca ou preta que cobre os seios e parte da barriga, amarrada nas costas, que tem como função proteger o corpo do contato com a corda do arco. Como foi dito, assim como outras artes marciais, o kyudô tem um sistema de ranqueamento para denotar a perícia do arqueiro, embora o uniforme não traga nenhuma indicação de seu ranking - nada de faixas coloridas, por exemplo. Todo praticante de kyudô começa no décimo kyu, e vai avançando em contagem regressiva até o primeiro kyu, quando pode fazer o teste para o primeiro dan, e chegar até o oitavo dan; todos os participantes de torneios internacionais devem ser pelo menos de primeiro dan.

O método de disparo da flecha também segue rígidas regras de tradição, determinadas pela ZNKR, e que devem ser respeitadas por todos os arqueiros, sob pena de desclassificação. Esse método é conhecido como "oito passos", pois possui oito etapas. Para começar, todos os arqueiros, inclusive os canhotos, devem segurar o arco com a mão esquerda e a corda com a mão direita, e, ao se posicionar para atirar, devem ficar de lado para o alvo, com seu ombro esquerdo apontando para ele, e abrir as pernas colocando os pés a uma distância um do outro igual ao comprimento de uma de suas flechas, com os dedões apontando para fora. No segundo passo, ele deve fazer com que suas costas se curvem levemente para trás, de forma que seus ombros fiquem perfeitamente paralelos a seus calcanhares. No terceiro passo, ele aponta o braço esquerdo na direção do alvo, segura a corda com a mão direita, e só então pode virar a cabeça para olhar o alvo. No quarto passo, ele levanta o arco até que sua mão fique acima da cabeça. No quinto passo, ele vai baixando o arco, enquanto simultaneamente empurra o arco para a frente com a mão esquerda e, já com a flecha encaixada na corda, a puxa com a mão direita. No sexto passo, o arqueiro deve puxar a corda até que sua mão fique embaixo de sua orelha direita, com a flecha paralela à sua boca. No sétimo passo, ele solta a corda, enquanto relaxa a mão esquerda mas continua levando a mão direita para trás; se o movimento for realizado corretamente, o arco vai girar em torno de seu próprio eixo durante o disparo, terminando com a corda do outro lado do braço do arqueiro. Finalmente, no oitavo passo, ele baixa o arco devagar, enquanto relaxa e baixa a mão direita, até que ambas as mãos estejam apontando para baixo; só aí ele pode tirar os olhos do alvo. Vale citar também que, quando um arqueiro não está atirando, ele deve ficar ajoelhado, com os calcanhares tocando suas nádegas, as mãos sobre os joelhos, e de cabeça baixa, olhando para o chão.

Em uma prova de kyudô, cada arqueiro dispara quatro flechas, em duas rodadas de duas flechas cada. Quando ele está disparando as primeiras duas, as outras duas devem ficar no chão, em frente e seus pés, alinhadas com seus ombros e apontando para o alvo. Em cada rodada, o arqueiro coloca a primeira flecha no arco, e a dispara enquanto segura a segunda com sua mão direita, de forma que sua ponta aponte para baixo; depois que todos tiverem disparado a primeira flecha, ele coloca a segunda no arco e a dispara, somente se ajoelhando depois que tiver disparado as duas. Cada arqueiro tem quatro minutos para disparar suas duas flechas, mas, como só pode disparar a segunda após todos terem disparado a primeira, arqueiros que demorem de propósito para atrapalhar os oponentes podem ser punidos.

O kyudô tem dois tipos diferentes de prova, o kinteki kyogi e o enteki kyogi, sendo que ambas podem ser disputadas no individual (kojin) ou por equipes (dantai), usando o sistema eliminatório, no qual os arqueiros ou equipes são pareados dois a dois, com o vencedor de cada embate avançando e o perdedor sendo eliminado, ou cumulativo, no qual todos os arqueiros disparam suas flechas e o vencedor é o de maior pontuação. Em torneios por equipes e individuais que usem o método cumulativo, os arqueiros competem em grupos de até seis ao mesmo tempo (cada um com seu próprio alvo), sendo que, por equipes, mesmo no cumulativo, apenas duas equipes podem estar na área de competição de cada vez.

O kinteki kyogi é a prova mais tradicional do kyudô, e pode ser disputada em dois sistemas de pontuação diferentes, usando dois tipos de alvo diferentes. Ambos são feitos de madeira, têm 12 cm de espessura, e são posicionados a 28 m do arqueiro; o chamado kasumi mato tem 36 cm de diâmetro e seis círculos concêntricos alternados nas cores preta e branca, enquanto o hoshi mato tem 24 cm de diâmetro e é branco com um círculo preto de 12 cm de diâmetro no meio. O sistema de pontuação mais tradicional é o tekichu, no qual cada acerto se chama atari, e cada erro se chama hazure, sendo que no hoshi mato só são considerados acertos flechas que atinjam o círculo preto. O vencedor é o arqueiro que tiver mais acertos, e, em caso de empate, pode ocorrer o izume kyosha, uma competição na qual os empatados disparam suas flechas até que um erre, quando será eliminado, ou, se estiver sendo usado o kasumi mato, o enkin kyosha, no qual o arqueiro que tiver acertado suas flechas mais próximas do centro é considerado vencedor. O segundo sistema de pontuação se chama saiten, no qual um painel de cinco árbitros avalia a postura do arqueiro e sua fidelidade aos oito passos, e confere uma nota após a flecha acertar o alvo. No saiten cada arqueiro dispara sempre sozinho, e o vencedor é aquele com a maior nota após todos terem se apresentado.

Já o enteki kyogi é bem parecido com a prova que é disputada nas Olimpíadas, usando um alvo que se chama tokuten mato, que tem 1 m de diâmetro, e é posicionado a 60 m de distância do arqueiro. O tokuten mato tem cinco círculos concêntricos, sendo que, de fora para dentro, suas cores e valores são branco (1 ponto), preto (3 pontos), azul (5 pontos), vermelho (7 pontos) e amarelo (10 pontos). O vencedor, evidentemente, é o que somar mais pontos, sendo que, em caso de empate, pode ser usado o enkin kyosha (quem acertou mais vezes os círculos menores ganha) ou o izume kyosha (os empatados disparam cada um uma flecha, e o que fizer a menor pontuação é eliminado). Desde 2014, a IKYF também regula provas de enteki kyogi usando o sistema tekichu, com kazumi mato que podem ter 1 m, 79 cm ou 50 cm de diâmetro.

O mais importante torneio do kyudô internacional é o World Kyudo Taikai (o Campeonato Mundial de Kyudô), disputado a cada quatro anos desde 2010, que conta com provas masculinas e femininas, individuais e por equipes, de kinteki kyogi tekichu e de enteki kyogi tokuten; o torneio de maior prestígio, porém, é o All Japan Kyudo Taikai, organizado pela ZNKR anualmente desde 1949, sempre no Japão, exclusivamente no individual masculino, de kinteki kyogi tekichu, e aberto somente a japoneses. Outro torneio de grande prestígio é o All Japan Invitational College Championship, um torneio entre universidades japonesas, por equipes, de kinteki kyogi tekichu, disputado anualmente no masculino desde 1950 e no feminino desde 2000. O kyudô já quase foi esporte olímpico, já que fez parte do programa do budô nas Olimpíadas de 1964, em Tóquio; na ocasião, porém, não foi disputado torneio nem houve distribuição de medalhas, ocorrendo apenas uma demonstração das técnicas.

Do Japão vamos para a Coreia, conhecer o gungdo. Durante a maior parte da história da Coreia, o tiro com arco permaneceu restrito aos militares, sem que os civis se interessassem em praticá-lo; em 1899, quando o Príncipe Henrique da Prússia visitou o país, o exército coreano fez uma demonstração de várias artes marciais e habilidades militares, dentre elas a arquearia, e o Príncipe ficou muito impressionado com a precisão dos arqueiros, perguntando ao Imperador Gwangmu se seria possível assistir a uma competição de tiro com arco. Só que na Coreia, diferentemente do que ocorria na Europa, não existiam competições esportivas de tiro com arco, e o Príncipe, atônito ao receber essa resposta, sugeriu ao Imperador que transformasse o tiro com arco coreano em um esporte. O Imperador gostou da sugestão, e determinou a abertura de várias escolas de tiro com arco, financiadas pelo governo, em todo o país.

Nos anos seguintes, seriam padronizados o tipo de arco usado, o tipo de alvo, e as regras da competição; o tiro com arco só se tornaria verdadeiramente popular na Coreia, entretanto, na década de 1920, durante a ocupação japonesa, quando a população, ao ver os japoneses praticando kyudô, se interessaria pelo esporte, e preferiria o tradicional coreano como forma de resistência - o próprio nome gungdo seria criado nessa época, imitando o nome do esporte japonês, já que gung, em coreano, significa "arco". A Associação Coreana de Tiro com Arco Tradicional (KTAA), que finalmente regularia o gungdo como esporte, seria coincidentemente fundada no mesmo ano que a ZNKR, 1949, após o fim da Segunda Guerra Mundial, que encerraria, também, a ocupação japonesa na Coreia; até hoje, porém, o gungdo não possui uma federação internacional - embora a KTAA ocasionalmente organize competições internacionais, ele só é verdadeiramente popular nas Coreias do Sul e do Norte. A mais importante competição da KTAA é o Campeonato Nacional, disputado na Coreia do Sul anualmente desde 1949 no masculino e 1978 no feminino.

O alvo do gungdo é um retângulo branco de 2 m de largura por 2,66 m de altura, dentro do qual há três figuras geométricas: um retângulo preto de 1,40 m de largura e 30 cm de altura, 40 cm abaixo do topo do alvo, um quadrado, também preto, de 1,40 m de lado, 25 cm abaixo do retângulo, e um círculo vermelho de 1 m de raio, dentro do quadrado. O alvo fica a 145 m de distância do arqueiro, e não é perfeitamente vertical, tendo uma inclinação para trás de 15 graus em relação ao solo. Cada arqueiro dispara 15 flechas, em três rodadas de cinco flechas cada, tendo 30 segundos para disparar cada flecha; cada flecha que acerta o círculo vermelho vale um ponto, as que acertam em qualquer outro lugar (ou não acertam o alvo) não valem nada. Em caso de empate, o desempate é pela "flecha de ouro", ou seja, os empatados disparam uma flecha de cada vez até que um erre. Até três arqueiros podem competir de cada vez, cada um com seu próprio alvo - algumas competições colocam números, ocidentais ou coreanos, dentro do círculo vermelho, na cor branca, para identificar os alvos - sendo que um alvo deve ficar a pelo menos 5 m de distância de seus vizinhos.

O arco do gungdo, chamado gakgung ("arco de chifre") é feito de bambu, madeira, chifre de búfalo e borracha; para obter a flexibilidade necessária, a madeira precisa ficar de molho na água salgada durante um ano. O arco é pequeno, com por volta de 1,20 m de comprimento, e as flechas, de aproximadamente 75 cm de comprimento, são feitas de bambu, com setas afiadas de madeira e rêmiges de penas de aves. Atualmente, a KTAA permite o uso de arcos e flechas feitos de materiais modernos, como fibra de vidro e fibra de carbono, exceto no Campeonato Nacional, onde somente arcos e flechas de bambu podem ser usados. Um elemento característico do gungdo é o "anel de dedão", um anel feito de madeira, chifre, osso ou pedra que evita a formação de bolhas no polegar do arqueiro, causadas pela forma como a corda é manuseada durante o disparo.

Vamos passar agora para o okçuluk, que é o tiro com arco tradicional turco, cujas origens remontam ao treinamento dos soldados do Império Otomano. O okçuluk é bastante popular na Turquia, mas, fora dela, não é muito praticado, exceto em comunidades de imigrantes turcos; por isso, ele não possui uma federação internacional, sendo regulado pela Federação Turca de Tiro com Arco Tradicional (TGTOF, da sigla em turco). O okçuluk é um esporte totalmente amador, com as principais competições sendo realizadas entre clubes ou a nível universitário - não existe um "campeonato turco de okçuluk" ou algo assim, por exemplo.

O arco usado no okçuluk é bem pequeno, com por volta de 1 m de comprimento, e é feito de maneira totalmente artesanal, contando com um núcleo de madeira, um reforço feito de chifre de boi no lado que vai ficar virado para o arqueiro durante o disparo, e uma camada feita com tendões de boi na frente, tudo isso colado usando uma cola obtida através da fervura de barbatanas de peixes; hoje, os principais fabricantes de arcos para okçuluk obtêm seus materiais de abatedouros e peixarias, que iriam mesmo descartar essas partes. Os tendões na frente do arco são responsáveis pela força que vai disparar a flecha, que, no okçuluk, é conferida muito mais pelo arco do que pela corda, que é até um pouco frouxa; os tendões exercem uma pressão tão forte sobre o arco que, quando ele está sem a corda, seus braços se dobram para a frente, fazendo com que o arco fique em formato de C - colocar a corda é um trabalho tão complexo, aliás, que deu origem a um ditado em turco, "existem mais de 120 maneiras de se colocar uma corda em um arco", usado para dizer que cada problema, por mais complexo que seja, sempre tem uma solução. As flechas são feitas de madeira ou bambu, com a ponta sendo esculpida na própria flecha; as rêmiges tradicionalmente são feitas de penas de aves, mas hoje em dia algumas são feitas de cerdas de plástico. Uma flecha de okçuluk tem entre 70 e 85 cm de comprimento.

O okçuluk possui duas disciplinas, o tiro ao alvo e o tiro a distância. O tiro a distância (hava koşusu) é considerado mais tradicional, pois era o mais popular no Império Otomano. As regras são as mesmas da flight archery: cada competidor aponta o arco levemente para cima e dispara sua flecha, sendo vencedor aquele que fizer com que a flecha viaje a maior distância antes de atingir o solo. O tiro a distância usa um apetrecho chamado siper, feito de metal, em formato elíptico (parece uma saboneteira) e que conta com uma tira de couro, que deve ser amarrada no pulso do arqueiro, na mão que vai segurar o arco. O siper conta com um sulco no qual a flecha deve ser encaixada, e serve para aumentar sua velocidade após o disparo, e, consequentemente, fazer com que ela chegue mais longe. Cada flecha deve ter o sobrenome e a inicial do primeiro nome do competidor, podendo contar também com pintura de identificação, desde que essa não passe de 15 cm a partir da ponta da flecha.

A área de competição do tiro a distância conta com um local próprio para os competidores se prepararem, e uma mureta detrás da qual eles vão fazer o disparo, com todas as pessoas presentes, como árbitros e plateia, devendo ficar atrás do arqueiro. A área válida para que a flecha caia é em formato de V, com o vértice centrado no ponto de onde o arqueiro vai fazer o disparo, e deve ter pelo menos 700 m livres de quaisquer obstáculos, com precauções para que pessoas e animais não a invadam, com bandeiras marcando as distâncias a cada 50 m a partir dos 300 m. Dependendo da competição, cada arqueiro dispara entre 3 e 11 flechas, valendo sempre a maior distância obtida para se determinar o vencedor.

Já o tiro ao alvo (puta koşusu) é uma competição mais ao estilo das que estamos acostumados, com os arqueiros disparando suas flechas em direção a um alvo e marcando pontos. Aliás, eu não escrevi nem vocês leram errado, o nome do alvo usado no okçuluk é puta. Esse alvo tem formato de pera, com 1,1 m de altura, 70 cm de largura na parte mais larga e 35 cm na parte mais estreita; originalmente era feito de couro, mas, atualmente, pode ser feito de madeira, cortiça, ou impresso em um papel que ficará preso em um cavalete quadrado de madeira. O alvo normalmente é de cor marrom, e possui dois círculos grandes e 18 pequenos; os grandes, um centrado na parte larga (com 20 cm de diâmetro) e outro na estreita (com 15 cm de diâmetro), costumam ser decorados, enquanto os pequenos (com 5 cm de diâmetro cada), sempre nas cores branca e preta, estão dispostos em um padrão em volta do círculo grande da parte mais larga.

Existem provas indoor e outdoor de tiro ao alvo. Nas provas outdoor, o alvo fica posicionado a uma distância de 60 m do arqueiro no feminino e a 70 m no masculino; cada arqueiro dispara 63 flechas, sendo 7 séries de 9 flechas cada. Nas provas indoor, o alvo fica a 18 m, tanto no masculino quanto no feminino, e cada arqueiro dispara 35 flechas, sendo 7 séries de 5 flechas cada. Não há emparelhamento, com todos os arqueiros competindo juntos, e, a cada série de flechas, o de pior pontuação sendo eliminado; ao final da última flecha, o que tiver mais pontos é o vencedor. Acertar um círculo pequeno vale 1 ponto, acertar o círculo grande da parte mais larga vale 3 pontos, e acertar o círculo grande da parte mais estreita vale 5 pontos no outdoor ou 3 pontos no indoor (porque a distância é menor, então a tarefa é mais fácil). Existem algumas competições de "tiro ao alvo de precisão" nas quais a parte mais larga é coberta com uma chapa de metal, para que os competidores só consigam pontuar se acertarem o círculo da parte mais estreita.

Vamos voltar para o oriente, mais especificamente para a Mongólia, para ver o tiro com arco tradicional mongol, que, infelizmente, não tem um nome mais curto. Assim como o okçuluk, o tiro com arco tradicional mongol tem sua origem no treinamento dos exércitos dos conquistadores mongóis, e hoje é um esporte completamente amador, sem torneios profissionais, sendo popular somente na Mongólia e praticamente inexistente no resto do mundo. Evidentemente, isso faz com que não exista uma federação internacional, com a regulação cabendo à Associação Mongol de Tiro com Arco Nacional (MÜKK, da sigla em mongol), que cuida para que suas regras não desapareçam e suas tradições sejam preservadas, e supervisiona a organização de entre 20 e 30 torneios por ano, todos dentro da Mongólia. O tiro com arco tradicional mongol é considerado pela UNESCO Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 2010, e sua principal competição ocorre durante o festival do Naadam, realizado anualmente em julho, que conta com provas de corrida de cavalo, luta e tiro com arco.

Por determinação da MÜKK, todos os arcos utilizados em competições de tiro com arco tradicional mongol devem ser fabricados na Mongólia, de acordo com regras estabelecidas pela entidade, que respeitam a forma como eles vem sendo feitos há centenas de anos. Os arcos são feitos de forma totalmente artesanal, usando madeira de bétula, bambu, chifres e tendões de carneiro, e são tão leves que boiam na água. Uma característica curiosa é que a temperatura ambiente influencia em sua performance: no frio, o arco enrijece, e seus tiros se tornam mais precisos, enquanto no calor ele fica mais mole, sendo mais difícil para o arqueiro disparar com precisão. Um arco de tiro com arco tradicional mongol tem entre 1,4 m e 1,8 m de comprimento, de acordo com a altura do arqueiro, e leva em torno de seis meses para ficar pronto. As flechas têm entre 75 cm e 1 m de comprimento, 1 cm de diâmetro, e são feitas de madeira de bétula. As rêmiges são feitas de penas de aves, e a seta, também feita de madeira, tem 4 cm de comprimento, cerca de 2 cm de diâmetro e não tem "bico", o que faz com que pareça que flecha tem uma rolha na ponta.

A corda do arco era tradicionalmente feita de intestino de carneiro, mas, atualmente, a MÜKK permite cordas de nylon e outros materiais sintéticos, em nome da segurança dos arqueiros - pois a corda tradicional se partia e causava acidentes mais facilmente. A corda é bastante grossa em relação aos demais arcos, com cerca de 5 mm de diâmetro, e é presa ao arco por tiras de couro (de carneiro, evidentemente), que se esticam junto com a corda. Uma das principais características do tiro com arco tradicional mongol é a forma de segurar a corda, com o polegar, o que faz com que os nós dos dedos apontem para a frente como se o arqueiro fosse dar um soco. A flecha não é segurada pelo arqueiro antes do disparo, mas fica apoiada sobre as costas de sua mão, por isso, possui uma ranhura na parte de trás, antes das rêmiges, que deve ser encaixada na corda, para maior firmeza.

O tiro com arco tradicional mongol tem três provas diferentes, chamadas uriankhai, buriat e khalkh - os nomes das tribos mongóis pelas quais, segundo a tradição, elas foram inventadas. A prova do khalkh é a mais popular, e é composta de duas partes, chamadas khana e khasaa. Em ambas as partes, os alvos são pequenos cilindros ocos, feitos de intestino de carneiro curtido e trançado, de 8 cm de altura por 8 cm de diâmetro. Na parte do khana, 50 cilindros são arrumados para formar um "muro", com 21 cilindros na base, 20 sobre eles e 19 no topo, o que faz com que o muro tenha 4 m de comprimento e 24 cm (3 cilindros) de altura; já na parte do khasaa são usados 30 cilindros, 18 embaixo e 12 em cima, sendo que os três de cada ponta da base são posicionados deitados. O objetivo em ambas as partes é derrubar os cilindros com as flechas, sendo que cada cilindro derrubado vale 1 ponto; é possível derrubar mais de um com uma única flecha, já que, quando os de baixo caem, levam os de cima junto. Alguns cilindros são envolvidos em tecido, normalmente vermelho ou amarelo, mas apenas para facilitar a visualização, também valendo 1 ponto cada. A distância da qual são disparadas as flechas é a mesma para as duas partes: 65 m no feminino e 75 m no masculino. Cada arqueiro dispara 40 flechas no khana e 20 no khasaa, 60 no total, em rodadas de cinco flechas cada, mas só se classificam para o khasaa os arqueiros que fizerem pelo menos 33 pontos no khana; o número de pontos obtidos nas duas partes é somado para determinar o vencedor.

Já na prova do buriat, os alvos são cilindros de couro recheados de pelos e lã, também de 8 cm de diâmetro e 8 cm de altura, de cor preta com uma faixa de tecido vermelho ou amarelo amarrada no meio. 20 desses cilindros são posicionados deitados e alinhados, face com face. Cada arqueiro dispara 20 flechas, em quatro rodadas de cinco flechas cada, e o objetivo é não só acertar os cilindros, mas fazer com que eles rolem para pelo menos 20 cm de distância de sua posição inicial, com cada cilindro atingido com sucesso valendo 1 ponto. A distancia dos arqueiros para os cilindros é de 30 m no feminino e 45 m no masculino. Finalmente, a prova do uriankhai é parecida com o buriat, mas é tradicionalmente disputada somente no masculino, e nela os alvos são esferas de 8 cm de diâmetro, feitas de tiras de couro trançadas, que pesam entre 350 e 450 g cada. 12 dessas esferas são posicionadas em uma linha, e cada arqueiro dispara apenas três flechas, da distância de 40 m. O objetivo é acertar uma das esferas e fazer com que ela role pelo menos 8 cm, o que é mais difícil do que parece, devido a seu peso.

Em todos os três tipos de prova, há uma dupla de árbitros que ficam um de cada lado do alvo, para apontar se o tiro foi válido, contar os pontos e arrumar novamente o alvo - sim, porque, a cada tiro, o alvo é reconstruído; no khalk, por exemplo, é impossível derrubar todo o muro. É importante registrar também que, em todas as três provas, pelas regras da MÜKK, uma área de competição pode ter até 8 alvos paralelos, cada um com três arqueiros que se alternam nas rodadas de flechas, ou seja, até 24 arqueiros podem competir de cada vez; nesse caso, a distância entre um alvo e outro deve ser de pelo menos 4 m. A competição não é eliminatória, porém, com a colocação final não dependendo de em qual "trio" cada arqueiro estava.

Existe ainda um quarto tipo de prova, chamado övlijn, que não é reconhecida pela MÜKK, mas costuma ser disputada em alguns festivais realizados durante os meses de inverno - övlijn, inclusive, significa "inverno" em mongol. Nessa prova as flechas têm uma seta feita de latão, mas do mesmo diâmetro da flecha, sem nenhuma protuberância, como se fosse uma ponta esculpida nela; a razão é que nessa prova a flecha precisa perfurar um objeto, ao invés de derrubá-lo - esse objeto é um disco de madeira com 20 cm de diâmetro e cerca de 8 cm de espessura, cujas faces atualmente são pintadas em cores vivas como vermelho ou laranja. Após o arqueiro puxar a corda, um árbitro joga o disco para o alto, com uma das faces virada para o arqueiro, que deve atingi-la com a flecha antes que o disco toque o chão. A distância é de 30 m, e cada arqueiro dispara 3 flechas (com a anterior sendo tirada do disco antes do tiro seguinte, em caso de acerto).

Para terminar por hoje, vamos ver o tiro com arco tradicional nômade, que surgiu na Ásia Central, e hoje é extremamente popular no Quirguistão - a ponto de criar um problema para a Federação Quirguiz de Tiro com Arco, já que a maioria dos arqueiros prefere o tiro com arco tradicional, o que faz com que o Quirguistão jamais tenha conseguido classificar um atleta para uma competição internacional do tiro com arco da World Archery. Além de no Quirguistão, o tiro com arco tradicional nômade é popular no Uzbequistão, Turcomenistão, e em partes do Cazaquistão, Rússia e Mongólia. Como de costume, é um esporte totalmente amador, sem campeonatos profissionais, e não possui uma federação internacional, com seu principal órgão regulador sendo a Federação Quirguiz de Salbuurun (KRSF) - o salbuurun é um esporte que simula uma caçada, contando com provas de falcoaria, montaria, corrida de cachorros e tiro com arco, também muito popular no Quirguistão.

O arco do tiro com arco tradicional nômade também é feito de forma totalmente artesanal, usando madeira, chifres e tendões, com diferentes regiões usando diferentes tipos de árvores e animais em sua confecção; assim como ocorre com o tiro com arco tradicional mongol, em todas as competições sancionadas pela KRSF os arcos e as flechas usados têm de ser fabricados no Quirguistão, inclusive os usados por competidores estrangeiros. O arco possui cerca de 1,40 m de comprimento, e as flechas, feitas de madeira, com rêmiges de penas de aves e setas afiadas de latão, sem protuberâncias, têm cerca de 1 m de comprimento. A parte mais curiosa de uma prova de tiro com arco tradicional nômade, entretanto, é o alvo: trata-se de um cavalete de 60 cm de largura por 1 m de altura, no qual será afixado um papel com a figura de um animal, normalmente um íbex (espécie de cabra nativa da Ásia Central), sobre a qual são pintados três círculos concêntricos, de 30, 20 e 10 cm de diâmetro, nas cores verde, vermelha e amarela, valendo 1, 2 e 3 pontos, respectivamente.

Uma competição de tiro com arco tradicional nômade é composta de três etapas, sendo que, em cada uma, cada arqueiro dispara 10 flechas em duas rodadas de 5 flechas cada, tendo dois minutos para disparar suas cinco flechas. Na primeira etapa, os arqueiros se posicionam da forma usual em uma competição de tiro com arco, levemente de lado mas encarando os alvos; na segunda etapa, eles se posicionam de costas, com os calcanhares virados para o alvo, e devem girar o tronco para poder enxergá-lo e disparar as flechas; já na terceira etapa os arqueiros se posicionam de frente, mas ajoelhados, com um dos joelhos tocando o solo e o outro apontado para o alvo, com a sola desse pé em contato total com o solo. Nas fases eliminatórias da competição, a distância dos arqueiros para os alvos é de 30 m no feminino e 35 m no masculino, enquanto na final é de 35 m no feminino e 40 m no masculino.
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domingo, 27 de dezembro de 2020

Escrito por em 27.12.20 com 0 comentários

Tiro com Arco (II)

Em 2016, em meu intuito ainda não declarado de falar sobre todos os esportes das Olimpíadas, escrevi um post sobre tiro com arco. Na ocasião, optei por falar apenas das competições oficiais da World Archery (WA), a federação internacional desse esporte, porque o tiro com arco é um esporte muitíssimo abrangente, existindo centenas de provas e competições diferentes nas quais o objetivo é acertar uma flecha em um alvo usando um arco. Enquanto eu fazia as figuras com os esportes da Olimpíadas, entretanto, acabei ficando curioso e decidi pesquisar sobre as regras das provas que foram disputadas entre 1900 e 1920, antes da fundação da WA, e acabei descobrindo que existe uma dezena de provas que não são oficiais da WA, mas são disputadas em torneios nacionais e até internacionais até hoje, reguladas por diversas federações nacionais. Essa curiosidade me levou a escrever esse post que vocês estão lendo agora, no qual eu vou falar sobre algumas dessas provas. Hoje, mais uma vez, é dia de tiro com arco no átomo!


Após sua fundação, em 1931, a WA (que até 2011 se chamava FITA, da sigla em francês para Federação Internacional de Tiro com Arco) buscou padronizar as regras do esporte, pois existiam dezenas de arcos e dezenas de provas diferentes, e ela não queria sancionar todos eles. Em provas oficiais da WA, portanto, só são utilizados três tipos de arco, o recurvo, o composto e o barebow, e são disputadas provas em cinco modalidades. Dessas, a mais famosa no mundo é a que a WA chama de target archery, aquela que estamos acostumados a ver nas Olimpíadas, na qual os arqueiros se posicionam a uma certa distância de um alvo, em um campo aberto, e disparam uma certa quantidade de flechas, sendo vencedor aquele que obtiver a maior pontuação.

Essa competição disputada nas Olimpíadas é chamada pela WA apenas de Target Archery, mas, em campeonatos onde eram disputadas provas de target archery com regras diferentes das dela, era necessário que ela recebesse outro nome; por causa das Olimpíadas, ela ficaria conhecida como Olympic Round. Relembrando, no Olympic Round o alvo, que tem 122 cm de diâmetro, é posicionado a 70 m do ponto de onde os arqueiros disparam, e a prova é realizada em duas fases. Na primeira fase, cada arqueiro dispara 72 flechas, de três em três, e sua pontuação total é somada; a segunda fase é disputada em um sistema de sets, no qual os arqueiros são emparelhados dois a dois, e a cada set cada um dispara três flechas, com aquele que tiver a maior pontuação nos disparos ganhando 2 pontos e cada um ganhando 1 ponto em caso de empate, sendo vencedor do confronto aquele que primeiro somar 6 pontos - ou seja, são disputados no mínimo 3 e no máximo 5 sets. Se ambos estiverem empatados em 5 a 5, é usada a "flecha de ouro", com cada arqueiro disparando uma única flecha e aquele que obtiver a maior pontuação sendo vencedor. Cada arqueiro tem um tempo-limite de 2 minutos para disparar suas três flechas, não importa a fase.

Pois bem, após a fundação da WA, as demais provas de target archery que existiam na época não foram imediatamente abandonadas. Algumas delas foram sumindo por falta de praticantes, mas algumas são disputadas até hoje, com inclusive 11 delas sendo reconhecidas como provas oficiais pela WA, e constando de alguns campeonatos nacionais e internacionais. Essas provas são hoje divididas em dois tipos, as métricas e as imperiais, usando como critério se as distâncias entre os arqueiros e o alvo são medidas em metros ou em jardas. Quase todas essas provas atualmente usam o arco recurvo, então as informações que eu darei aqui, inclusive as que já falei do Olympic Round, são referentes a esse tipo de arco - o Olympic Round com arco composto possui algumas diferenças, que estão listadas lá no primeiro post sobre tiro com arco. Quando a informação disser respeito a outro tipo de arco, isso estará explicado.

Vamos começar pelas métricas, que usam o mesmo alvo do Olympic Round. Relembrando, esse alvo tem 10 círculos concêntricos e coloridos, com cada círculo valendo um número de pontos crescente de fora para dentro, ou seja, o maior de todos, mais perto da borda, vale 1 ponto, e o menor de todos, lá no centro, vale 10 pontos; para melhor contraste, os círculos de valor 1 e 2 são de cor branca, os 3 e 4 são pretos, 5 e 6 azuis, 7 e 8 vermelhos, e os de valor 9 e 10 são amarelos. Dentro do círculo de valor 10 há um "décimo-primeiro círculo", de 2 cm de diâmetro, também amarelo, conhecido como X, que também vale 10 pontos, mas que serve como desempate - o número de X conseguidos por cada arqueiro é devidamente registrado, e, caso uma disputa termine empatada, quem conseguiu mais X será o vencedor, só sendo verdadeiramente empate se ambos tiverem o mesmo número de acertos no X. Caso uma flecha acerte sobre a linha que separa um círculo do outro, ela marca sempre a pontuação maior.

Dentre as provas reconhecidas pela WA, a mais famosa é a 1440 Round, que, até 2011, se chamava FITA Round. A 1440 Round é composta de quatro etapas; em cada uma delas, cada arqueiro dispara 36 flechas (para um total de 144, por isso o nome 1440 Round, sendo 1440 a pontuação máxima que ele pode fazer), de três em três, com sua pontuação total sendo somada para determinar o vencedor. Caso a prova seja um Double 1440 Round, ela é disputada em dois dias, com os melhores do primeiro dia repetindo a prova no segundo, e o arqueiro com a maior pontuação no segundo dia sendo o vencedor da prova; em caso de empate, é usada a flecha de ouro entre os empatados. As distâncias do alvo para os arqueiros no masculino são 90 m na primeira etapa, 70 m na segunda, 50 m na terceira e apenas 30 m na quarta; no feminino, são 70 m, 60 m, 50 m e 30 m. Os alvos nas duas primeiras etapas têm 122 cm de diâmetro, e, nas duas últimas, 80 cm de diâmetro.

A prova 720 Round (até 2011 conhecida como Half FITA Round) usa as mesmas regras da 1440 Round, mas com cada arqueiro disparando 18 flechas por etapa (para um total de 72, a metade de 144, por isso o nome Half FITA Round, já que half é metade em inglês). Mais uma vez, existe a prova do Double 720 Round, disputada em dois dias.

Já a prova 900 Round (e a Double 900 Round) é disputada em três etapas, todas usando o alvo de 122 cm, nas distâncias de 60 m, 50 m e 40 m, tanto no masculino quanto no feminino; em cada etapa, cada arqueiro dispara 30 flechas, para um total de 90 (daí o 900, que é a pontuação máxima, no nome). A Standard Round (e a Double Standard Round) tem duas etapas, nas quais os alvos, de 122 cm, são posicionados a 50 m de distância na primeira e a 30 m na segunda, e cada arqueiro dispara 36 flechas por etapa. Finalmente, temos três provas compostas de uma única etapa, nas quais os arqueiros disparam as flechas de três em três e quem fizer mais pontos é o campeão: a WA 70, a WA 60 e a WA 50 (até 2011, elas eram FITA 70, FITA 60 e FITA 50). Em cada uma delas, o número depois do WA corresponde à distância do alvo (70 m na WA 70, 60 m na WA 60, 50 m na WA 50), e em todas elas são usados os alvos de 122 cm e cada arqueiro dispara 72 flechas.

Vamos começar as provas que não são reconhecidas pela WA pela Metric Round, que usa as exatas mesmas regras da 1440 Round (existindo, inclusive, a Double Metric Round, disputada em dois dias). A Metric Round possui cinco versões, sendo a diferença entre elas a distância entre o alvo e os arqueiros em cada etapa: na Metric Round I eles ficam a 70 m, 60 m, 50 m e 30 m (mesmas distâncias da 1440 Round feminina); na Metric Round II as distâncias são 60 m, 50 m, 40 m e 30 m; na Metric Round III são 50 m, 40 m, 30 m e 20 m; na Metric Round IV, 40 m, 30 m, 20 m e 10 m; e na Metric Round V, 30 m, 20 m, 15 m e 10 m. Assim como existe a 720 Round, existem as Half Metric Rounds (e Double Half Metric Rounds), de Half Metric Round I a Half Metric Round V, nas quais são disparadas 18 flechas por etapa ao invés de 36.

Em seguida temos a Advanced Metric Round (e a Double Advanced Metric Round), que usa apenas duas etapas, ambas com o alvo de 122 cm e com cada arqueiro disparando 36 flechas por etapa. No masculino, o alvo está a 90 m na primeira etapa e a 70 m na segunda; no feminino, a 70 m na primeira e a 60 m na segunda. A mesma regra é usada na Long Metric Round (e na Double Long Metric Round), que tem cinco versões: na Long Metric Round I o alvo fica a 70 m na primeira etapa e a 60 m na segunda (mesmas distâncias da Advanced Metric Round feminina); na Long Metric Round II a 60 m e a 50 m; na Long Metric Round III a 50 m e a 40 m; na Long Metric Round IV a 40 m e a 30 m; e na Long Metric Round V a 30 m e a 20 m. A Short Metric Round (e a Double Short Metric Round) também usa as mesmas regras, mas com o alvo de 80 cm de diâmetro e distâncias menores: na Short Metric Round I ele fica a 50 m na primeira etapa e a 30 m na segunda; na Short Metric Round II a 40 m e a 30 m; na Short Metric Round III a 30 m e a 20 m; na Short Metric Round IV a 20 m e a 10 m; e na Short Metric Round V a 15 m e a 10 m. A única prova não-reconhecida ainda disputada que consiste de apenas uma etapa é a Balmoral Round, que usa o alvo de 122 cm, a 50 m de distância, e cada arqueiro dispara 60 flechas.

Dentre as que têm regras diferentes, a mais famosa é a Hailes Round, que usa um sistema de sets semelhante à segunda fase do Olympic Round. Ao invés de pareados dois a dois, os arqueiros disputam todos juntos, com aquele que fizer a maior pontuação no set ganhando 10 pontos, o segundo 9, o terceiro 8, e assim por diante até o décimo, que ganha 1 ponto. São disputados 10 sets, sendo campeão quem tiver mais pontos após o décimo. É usado o alvo de 80 cm; para o arco recurvo e o composto, ele fica a 50 m de distância, com cada arqueiro disparando 48 flechas por set, e, para o barebow e longbow, a 30 m, com cada arqueiro disparando 30 flechas por set. A Hailes Round também pode ser disputada na versão longa, com 20 sets e somente os cinco primeiros pontuando (com o primeiro ganhando 5 pontos, o segundo 4 etc.) ou na versão curta, com 5 sets e os dez primeiros pontuando, mas com o dobro dos pontos (20 para o primeiro, 18 para o segundo, 16 para o terceiro, até 2 para o décimo). Em todas as três versões, a pontuação máxima é 100.

Finalmente, temos a Cawdor Round, na qual cada arqueiro dispara as flechas não de três em três, mas de cinco em cinco, sendo disparadas, ao todo, 100 flechas, em um alvo que fica a 50 m de distância. Para o arco recurvo é usado um alvo de 60 cm de diâmetro, e para o composto o de 40 cm. A Cawdor Round também possui a versão curta, na qual são disparadas apenas 50 flechas.

As provas métricas são muito populares até hoje na França, Itália, Alemanha e Japão, mas, por causa da WA, vêm perdendo praticantes a cada dia, mesmo nesses países. O mesmo não acontece com as provas imperiais, extremamente populares no Reino Unido, onde são mais praticadas até do que o Olympic Round; um dos motivos para isso é a tradição: a Grand National Archery Society (hoje conhecida como GB Archery) não foi uma das fundadoras da FITA, e durante muito tempo resistiu a se filiar, justamente porque a FITA não quis reconhecer as provas imperiais como oficiais, e isso fez com que elas acabassem tendo mais torneios disputados no Reino Unido que as provas da FITA, e, consequentemente, mais praticantes.

As provas imperiais usam o mesmo alvo das métricas, mas com um sistema de pontuação diferente: os dois círculos brancos valem 1 ponto, os dois pretos valem 3 pontos, os dois vermelhos valem 7 pontos, e os dois amarelos e o X valem 9 pontos - com o X ainda servindo em caso de desempate. A principal característica das provas imperiais, porém, é que as medidas dos alvos e das distâncias são em polegadas e jardas, respectivamente. Existem apenas três tamanhos de alvo nas provas imperiais: para as provas nas quais o alvo fica a 20 jardas (18,288 m) ou menos do arqueiro, ele tem 16 polegadas (40,64 cm) de diâmetro; nas provas nas quais o alvo fica entre 30 (27,432 m) e 50 jardas (45,72 m) do arqueiro, ele tem 32 polegadas (81,28 cm) de diâmetro; e em provas nas quais o alvo fica a 60 jardas (54,86 m) ou mais do arqueiro, tem 48 polegadas (121,92 cm) de diâmetro. Todas as provas imperiais possuem uma versão Double xxx Round, na qual os arqueiros de maior pontuação no primeiro dia voltam para disputar as medalhas em uma prova igualzinha no segundo.

A mais famosa prova imperial é a York Round, disputada em três etapas: na primeira, o alvo fica a 100 jardas (91,44 m) de distância e cada arqueiro dispara 72 flechas; na segunda, o alvo fica a 80 jardas (73,15 m) de distância, e cada arqueiro dispara 48 flechas; e, na terceira, o alvo fica a 60 jardas de distância, e cada arqueiro dispara 24 flechas - a pontuação máxima, caso alguém esteja interessado, é 1296 pontos, lembrando que o máximo de pontos por flecha nas provas imperiais é 9. O Saint George Round segue a mesma regra, mas com os arqueiros disparando 36 flechas por etapa; a Hereford Round também segue a mesma regra, mas com os alvos posicionados a 80, 60 e 50 jardas; e a Albion Round usa as mesmas distâncias da Hereford Round, mas com os arqueiros disparando 36 flechas por etapa. Na Windsor Round, os arqueiros disparam 36 flechas por etapa, e os alvos estão a 60, 50 e 40 jardas (36,576 m); enquanto na Short Windsor Round estão a 50, 40 e 30 jardas. A American Round também é composta de três etapas, com os alvos posicionados a 60, 50 e 40 jardas, e os arqueiros disparando 30 flechas por etapa; e na Columbia Round os arqueiros disparam 12 flechas em cada etapa, com os alvos a 50, 40 e 30 jardas

A Bristol Round tem cinco versões; todas elas são disputadas em três etapas, sendo que na primeira os arqueiros disparam 72 flechas, na segunda, 48 flechas, e na terceira, 24 flechas. Na Bristol Round 1 os alvos são posicionados a 80, 60 e 50 jardas; na Bristol Round 2 a 60, 50 e 40 jardas; na Bristol Round 3 a 50, 40 e 30 jardas; na Bristol Round 4 a 40, 30 e 20 jardas; e na Bristol Round 5 a 30, 20 e 10 jardas (apenas 9,144 m). A National Round é disputada em duas etapas, com os arqueiros disparando 48 flechas na primeira e 24 na segunda; na New National Round os alvos ficam a 100 e a 80 jardas; na Long National Round a 80 e 60 jardas; na National Round padrão, a 60 e 50 jardas; e, na Short National Round, a 50 e 40 jardas. As New Western Round, Long Western Round, Western Round e Short Western Round usam as mesmas distâncias, mas com os arqueiros disparando 48 flechas em cada etapa, assim como as New Warwick Round, Long Warwick Round, Warwick Round e Short Warwick Round, nas quais os arqueiros disparam 24 flechas em cada etapa. Finalmente, temos a Saint Nicholas Round, em duas etapas, a 40 e 30 jardas, com os arqueiros disparando 48 flechas na primeira e 36 na segunda.

O tiro com arco fez parte das Olimpíadas de 1900, 1904, 1908 e 1920, depois foi retirado justamente porque, na falta de um órgão que o regulasse internacionalmente, cada país-sede escolhia as provas que seriam disputadas, o que sempre gerava controvérsia. Apesar de a FITA ter sido fundada em 1931, somente em 1972 o tiro com arco retornaria ao programa olímpico, já com a Olympic Round. Em 1904 e 1908, foram disputadas provas imperiais: em 1904, a Double York Round e a Double American Round masculinas, e a Double Columbia Round e a Double National Round femininas; e, em 1908, a Double York Round e a Continental Style masculinas, e a Double National Round feminina. A Continental Style era uma prova que já não é mais disputada hoje, na qual os arqueiros disparavam 40 flechas em um alvo a 50 jardas, de cinco em cinco, em uma única etapa. Em 1920, foi disputada uma outra modalidade, chamada field archery, e, em 1900, foram disputadas seis provas, todas com nomes em francês, das quais eu não consegui descobrir as regras nem a modalidade, e que imagino que não sejam mais disputadas hoje.

Já nas Paralimpíadas, o tiro com arco faz parte do programa desde a primeira edição, em 1960, mas a Olympic Round só começou a ser disputada em 1992; a FITA Round foi disputada de 1960 a 1988, a Saint Nicholas Round de 1960 a 1972, a Columbia Round de 1960 a 1968, a Windsor Round em 1960, a Albion Round em 1964 e 1968, e a Advanced Metric Round e a Short Metric Round de 1976 a 1988, todas essas no masculino e feminino, e a Short Western Round em 1972, apenas no masculino.

Todas as provas que eu mencionei até agora são outdoor, ou seja, disputadas ao ar livre; antes de terminar, falta falar sobre as provas indoor, que são disputadas em um ginásio coberto. A WA tem três provas oficiais indoor: na WA 18 o alvo está posicionado a 18 m de distância do arqueiro, na WA 25 ele está posicionado a 25 m de distância, e na WA Combined são disputadas duas etapas, a primeira com o alvo a 18 m, a segunda com o alvo a 25 m (vale dizer que, até 2011, essas provas eram conhecidas como FITA 25, FITA 18 e FITA Combined). Na WA 18 é usado um alvo de 40 cm de diâmetro, na WA 25 é usado um de 60 cm, e cada uma das etapas da WA Combined usa o alvo correspondente ao da sua distância. Na WA 18 e na WA 25 cada arqueiro dispara 60 flechas, e, na WA Combined, dispara 120, sendo 60 em cada etapa.

Todas essas três provas usam um alvo conhecido como WA 3-Spot (FITA 3-Spot até 2011), que se parece com um semáforo, com três alvos um embaixo do outro, cada um com apenas seis círculos concêntricos (o mais de fora, azul, de valor 6, dois vermelhos, de valor 7 e 8, dois amarelos, de valor 9 e 10, e o X, também amarelo). Cada uma das três flechas disparadas pelo arqueiro a cada rodada deve acertar um dos três alvos; se mais de uma flecha acertar o mesmo alvo, as que o acertarem depois da primeira valem zero pontos. A razão pela qual são usados três alvos é que, como a distância é muito pequena, os arqueiros frequentemente tentavam imitar Robin Hood, acertando a primeira flecha no X e então a própria flecha para ganhar mais pontos, o que era perigoso por causa dos ricochetes e estilhaços; com três círculos de valor 10, os arqueiros podem tentar acertar uma flecha em cada um deles.

A única outra prova indoor reconhecida pela WA é a Match Round, na qual é usado um alvo conhecido como Vegas Triple, composto por três alvos de 40 cm de diâmetro cada, dispostos no formato de um triângulo (um em cima e dois embaixo). A Match Round usa uma regra parecida com a do Olympic Round, com os arqueiros sendo pareados dois a dois, mas sem sets, com aquele que obtiver mais pontos avançando, e sendo usada a flecha de ouro em caso de empate; o alvo fica a 18 m de distância, e cada arqueiro dispara 12 flechas. Também usam o Vegas Triple as provas não-reconhecidas Vegas Round, na qual cada arqueiro dispara 60 flechas; e Dalahosie Round, na qual cada arqueiro dispara 54 flechas. Em ambas o alvo fica a 18 m, e em ambas é usado o sistema normal, sem pareamento. Assim como no WA 3-Spot, no Vegas Triple cada flecha deve acertar um alvo diferente, com as seguintes após a primeira que acertarem cada alvo valendo zero.

Dentre as demais não reconhecidas, a única métrica é a Stafford Round, que usa o alvo de 80 cm a 30 m de distância, com cada arqueiro disparando 72 flechas. A Portsmouth Round, que tem alvo de 60 cm a 20 jardas e cada arqueiro disparando 60 flechas; a Rosyth Round, que tem alvo de 60 cm a 20 jardas e cada arqueiro disparando 36 flechas; a Bray Round I, que tem alvo de 40 cm a 20 jardas e cada arqueiro disparando 30 flechas; e a Bray Round II, que tem alvo de 60 cm a 25 jardas (22,86 m) e cada arqueiro disparando 30 flechas, são híbridas, com distâncias em jardas mas usando o WA 3-Spot como alvo.

A única prova indoor imperial ainda disputada é a Worcester Round, que usa um alvo especial chamado Worcester Five Spot, que tem cinco círculos dispostos como se fossem o número 5 em um dado (dois em cima, dois embaixo e um no meio). Cada um desses círculos tem 16 polegadas de diâmetro e possui cinco círculos concêntricos, sendo que o central é branco, e os outros quatro são pretos, divididos por linhas brancas. O círculo central vale 5 pontos, e os demais, do centro para a borda, valem 4, 3, 2 e 1. Os arqueiros disparam um total de 60 flechas de cinco em cinco, com cada uma das flechas obrigatoriamente tendo que acertar um dos cinco alvos - se mais de uma flecha acertar o mesmo alvo, as que o acertarem depois da primeira valem zero pontos. A Worcester Round também possui uma versão disputada em dois dias, a Double Worcester Round.
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